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Adentre uma fortaleza maldita, enfrente criaturas horrendas e vença jogos sádicos para alcançar o pescoço do rei demônio e vingar seu lorde. |
Agora, na década de 2020, se fortalece uma corrente nostálgica entre jogadores e criadores de jogos, que buscam emular ou recriar e até reimaginar os gráficos e outros pontos característicos dos jogos da década de 1990 e 2000. São jogos como Frogun de 2022, Alisa de 2021 ou mesmo o brasileiro ainda não lançado Abyss x Zero.
O campo indie sempre esteve conectado com a memória nostálgica dos criadores (inclusive com jogos que remetem a gerações mais antigas do que as que mencionei anteriormente), que trazem para seus jogos conceitos e ideias típicos de sua formação como jogadores de videogame, o que torna o campo indie não apenas o maior expoente de videogame como expressão artística de seus criadores (para além de produto), mas também um refúgio para jogadores que partilham de determinada interpretação do que é o videogame.
Não existe contexto melhor para explicar a existência de um jogo como Labyrinth of the Demon King, que não apenas bebe de fontes como Silent Hill, Resident Evil e King's Field, mas que encontra a sua razão de ser na evocação do momento em que estes jogos foram concebidos e no carinho que seu criador nutre pelos sentimentos e memórias que seus nomes trazem.
Já no início do jogo percebemos a enrascada em que nos metemos: a neblina pesada que mal nos deixa ver e sons ambientes que fazem com que o jogador esteja sempre olhando ao redor para descobrir se há mesmo algo o observando.
Esta atmosfera opressiva não apenas permeia o jogo do início ao fim, mas acaba se tornando ainda mais aterradora conforme os perigos vão se tornando reais, conforme os perigos vão aparecendo de verdade, obrigando o jogador a entrar em combate ou disparar em fuga.

A criação cuidadosa de um ambiente hostil
O fato de o jogo ser jogável exclusivamente em primeira pessoa ajuda muito a criar a sensação de que há algo sempre à espreita. Por qualquer lugar que se anda há muitas paredes em volta, impedindo uma visão que revele tudo o que há ali por perto e permitindo que temor desencadeado pelos sons ambientes se confunda com o som dos demônios e criaturas que habitam o lugar se confundam e enganem o jogador.
As criaturas são um show de horrores à parte, uma mais feia que a outra. Várias inspiradas e baseadas no folclore japonês, como o famoso Kappa e muitos outros, cujos nomes não consigo lembrar agora, mas que são tão estranhos quanto, como demônios que com suas longas línguas habitam as casas de banho, lambendo a sujeira das piscinas, que aqui se assemelham muito aos lickers que encontramos em Resident Evil 2.
Diferente de outros jogos do gênero, aqui os monstros não fazem distinção entre jogador e outros monstros, eles atacarão realmente tudo o que se mexer, comportamento apropriado para criaturas descritas como ensandecidas e violentas. Entretanto, não são desprovidos de inteligência: boa parte das criaturas que enfrentamos já foram humanas, habitantes do castelo, estas podem ser um pouco mais inteligentes e podem se esconder do jogador para pega-lo com a guarda baixa.
Inicialmente, somos aterrorizados pela hostilidade do castelo, mas conforme avançamos e evoluímos, crescemos acostumados ao ambiente e suas peculiaridades e desenvolvemos a habilidade necessária para lidar com seus desafios, além de obter equipamento e até mesmo aliados mais adequados para a missão.

Claro, nada disso deixa o jogo menos assustador, uma vez que os perigos e os desafios se renovam e evoluem junto do jogador, mas é preciso reconhecer o esforço e o sucesso que o jogo tem para balancear sua face Dungeon Crawler com sua face Survival Horror.
Andando entre criaturas horrendas
As lutas contra chefes não são tantas e podem ser surpreendentemente fáceis para jogadores mais afiados, seja em jogos de ação ou veteranos dos gêneros abordados. O destaque nesta parte não fica para a ação, que realmente é mais interessante durante a exploração do castelo-labirinto, mas sim pelo design destes monstros, que são memoráveis.
Algo mais que se destaca pelo enredo e aparência mais do que pela dificuldade são os puzzles que encontramos no castelo, que embora sejam realmente muito legais conceitualmente, poderiam ser um pouquinho mais complicados. No fim das contas, o que pesa mais, assim como no restante do jogo, é o mapa.
Por mais que haja toda uma história por de trás de cada quebra-cabeças, o que pode mesmo chegar a complicar um pouco a vida do jogador é a necessidade de visitar (ou revisitar) pontos específicos do mapa em ordem para completa-los.
O mapa, por outro lado, é profundo e complexo, extremamente satisfatório e divertido de se explorar. Os ambientes fechados tornam o combate arriscado ao limitar a movimentação do jogador, que pode até mesmo acabar cercado se for pego de calça curta por várias criaturas.
Entre ambientes nojentos, estragados e aterrorizantes, é seguro destacar a ambientação como o ponto mais forte deste jogo. Desde os gráficos até a trilha sonora e sons ambientes, todos trabalham em conjunto a fim de dar vida (ou morte) ao lugar maldito.
Combate e outras mecânicas "duras"
Os elementos de dungeon crawler do jogo se destacam quando entramos no mérito do combate, tornando possível confiar nos equipamentos e itens para enfrentar momentos difíceis. Aqui vale a máxima da maioria dos RPGs: com o preparo e estratégia certos para o trabalho, não existe nada impossível.
Falando do combate em si, é bem simples e fácil de se entender. Somos capazes de defender, atacar e chutar. Também é possível manter o botão de ataque pressionado para utilizar um ataque mais forte que os inimigos não podem bloquear.
A manutenção da barra de estamina pauta o combate pois é utilizada para tudo: bloquear, atacar, esquivar e chutar. Ataques mais fortes consomem mais estamina e por isso é necessário utiliza-los com sabedoria. Embora existam itens para recuperar estamina instantaneamente durante o combate, depender demais deles não é recomendado pois só é possível carregar um número limitado de cada um deles. Essa dinâmica casa bem com o resto do jogo, pois obriga o jogador a permanecer sempre atento, mesmo quando tem a vantagem em combate.

Indo além da visão de jogo apoiado em nostalgia
Mais do que apenas um jogo que emula elementos de títulos mais antigos, Labyrinth of the Demon King se mostra um ótimo jogo do que podemos chamar de horror dungeon crawler, que possui alguns outros poucos expoentes, mas que deve ganhar tração com o tempo.
É um jogo tanto do passado quanto do futuro e evidencia como o videogame é um modo de arte que avança de maneira estupidamente rápida, talvez por seu caráter intrínseco à tecnologia, mas ainda mais pela forma de distribuição como mercadoria no momento em que existe: onde sempre há um avanço pelo qual cobrar e aqueles que, por conta, decidem por um retorno às formas mais saudáveis de criar e distribuir... Seja pela impossibilidade de realizar algo de escopo maior ou por decisão pensada.
Neste caso, diria que é um pouco dos dois, assim como ocorre com tantos outros jogos independentes: um pouco dos dois. É, para além de um jogo muito divertido, assustador e lindo (de sua própria maneira), um título que resistirá ao teste do tempo, assim como os jogos em que se inspirou.
Para fãs de jogo de survival horror, ou mesmo para quem gosta de títulos como King's Field, é uma ótima aventura que vai além de uma visita nostálgica a títulos do passado, com sua própria personalidade, pecando apenas pela falta de opções para rejogabilidade, único ponto em que, creio eu, pesou o escopo do projeto mesmo.
Disponível para: | Steam, GOG, XONE/XS, PS4/PS5, Switch |
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Desenvolvido por: | J. R. Hudepohl |
Publicado por: | Top Hat Studios |
Lançado em: | maio/2025 |
Gênero: | Ação, Aventura, Terror |