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Fatie e destrua inimigos com estilo através de uma distopia biopunk neste Hack n' Slash 2D. |
Apesar de ser uma prequela de um shooter em terceira pessoa lançado em 1999, Slave Zero X é um jogo de ação em 2.5D. E as diferenças se acentuam ainda mais: não é um jogo de tiro, mas sim um Hack'n Slash com fortes elementos de jogos de luta, com direito a utilização de mecânicas de cancelling e movimentos EX.
Esteticamente o jogo remonta a títulos do fim dos anos 90 e início dos anos 2000, seus cenários construídos em 3D relembram muito o que vemos no Slave Zero original, enquanto as sprites dos personagens relembram em muito o que vemos em jogos de luta como Guilty Gear e BlazBlue, influências que também são percebidas na jogabilidade, principalmente no que diz respeito à movimentação do personagem.
A ambientação do jogo é lindíssima, criando uma distopia futurista biopunk de respeito. Ao longo da jornada, passamos por vários tipos de ambiente, desde ruas sujas da cidade à favelas, trens em movimento, laboratórios, baladas e até mesmo templos religiosos. Todos construídos minuciosamente em 3D retrô, com cores fortes mas fundos escuros e iluminação baixa, que ajuda a dar o tom deprimente para aquele futuro aos pedaços.
A construção da distopia biopunk
O estilo retrô empregado na criação destes cenários também trabalha a favor do propósito de construir um futuro conflitante, que não apenas remonta a problemas do passado, mas que os agravou ao extremo ou pior: um futuro que reinterpreta de forma errônea um passado imemorial e que por isto valoriza como grandiosas coisas que na verdade foram desimportantes ou interpreta de forma enganada construções e tradições antigas, que agora ganham novo significado.
Mais perigoso ainda é quando o passado não é interpretado incorretamente, mas é interpretado sob a luz deste novo mundo destruído, governado por apenas um grande Deus-Rei, onde não se imagina a criação de outra forma de governo, mas em que existem aqueles que almejam tomar seu lugar e assumir este posto Divino conquistado com a tecnologia desenvolvida de maneira desenfreada através da violência física e ambiental, da exploração da humanidade e do mundo em nível absoluto.
A trilha sonora bem rápida é outro ponto forte, não apenas na construção do ambiente mas também no embalo e ritmo que ajuda e inspira o combate do jogo. Uma mistura e alternância entre techno e rock industrial, que combinam muito com o universo violento, desigual e em que até mesmo a própria biologia foi modificada pela indústria bélica.

Combate com profundidade para se explorar
Existe um ótimo nível de profundidade e liberdade no sistema de combate, em que é possível correr, pular e atacar. Existem dois botões dedicados ao ataque, um para golpes normais e outro para golpes fortes, todos possuem variações específicas para o estado do jogador, correndo, pulando, agachando etc, e é com estas variações que o jogador vai construir seus combos. Apenas com o jogador em estado neutro no chão é possível realizar uma string ou target combo, feito à base da praxe de macetar o botão de golpe fraco.
Diferente dos golpes fracos, os golpes fortes podem ser aprimorados utilizando parte da barra de energia, estas versões aprimoradas são mais fortes, mais rápidas e permitem que o jogador encadeie movimentos com golpes que antes não permitiam encadeamento.
Também há a possibilidade de gastar a barra de energia inteira para ativar o modo fatal sync, que irá consumi-la devagar até que se esgote ou que o modo seja desativado. Neste modo, o jogador tem acesso ilimitado aos golpes EX até que a barra seja esgotada.
Em algum ponto, são mencionadas técnicas secretas chamadas de God Killing Arts (Arte de Matar Deuses), criadas pelos guardiões, o grupo ancião que se opõe ao Deus-Rei e do qual nosso protagonista faz parte. Com alguma sorte, os jogadores também podem aprende-las.
Fácil de completar, difícil de dominar
O jogo é bem direto quando falamos de gameplay, não há muitos rodeios e o sistema dá liberdade ao jogador para experimentar e jogar da sua própria maneira, há pouca ou nenhuma exploração de cenário; e seções de plataforma não são um desafio, servindo apenas para levar o jogador do ponto A ao ponto B, que serão os locais em que lutaremos.
O terreno influência muito nas possibilidades do jogador durante o combate: inimigos lançados com força podem rebater em paredes, elevações podem permitir o encadeamento de ataques diferentes ou inutilizar outros, plataformas podem limitar a altura que lançamos os inimigos ou pulamos e por aí vai. Por ser um combate muito baseado em posicionamento e controle do grupo de inimigos, os cenários podem ajudar ou atrapalhar, a depender da ocasião e dos inimigos.
A dificuldade do jogo é bastante elevada e não é possível muda-la, não há modo fácil ou difícil, apenas o padrão, diferente da maior parte dos títulos de ação pura em que a escalada de dificuldade entre os diferentes modos (fácil, normal, difícil etc) demanda que o jogador compreenda cada vez mais nuances de seus sistemas a cada vez que se inicia uma nova partida. Apesar disto, há um forte fator replay para aqueles que tentarem conquistar o 100%.
Com um sistema de rankeamento extremamente severo, conseguir rank S em qualquer fase além das primeiras é um grande desafio por praticamente exigir que o jogador complete as fases sem receber nenhum golpe. Na verdade, é possível, mas por depender da extensão dos combos do jogador, acaba que completar as fases sem receber dano é a forma mais fácil de se conseguir nota máxima (necessário para miletar/platinar).

Não é um Frankenstein — é um biomecha!
É curioso reparar em como este jogo foi construído sobre incontáveis influências, não apenas conceitualmente do Slave Zero original, mas também de inúmeros outros jogos durante o processo de criação, seja nas sprites que remontam a jogos como BlazBlue e Guilty Gear, seja na estrutura de jogabilidade que remonta a títulos hack n' slash mais atuais.
Vale salientar que os cenários do jogo foram construídos utilizando o Trenchbroom, ferramenta para criação de mapas para Quake, daí essa estética retrô dos cenários que vemos contrastar com os belos sprites do jogo.
As muitas heranças do videogame retrô que este jogo abriga, contrastam também com o momento em que o jogo existe ao trazer sutilezas comuns apenas a jogos mais recentes e renegar outros elementos característicos do período em que se inspira.
Apesar de construído através de retalhos, Slave Zero X não é nenhum Frankenstein, mas sim um amálgama de títulos anacrônicos e de diferentes gêneros que unidos e conduzidos pelo time da Poppy Works, encontrou o seu lugar no presente como o jogo audacioso que é, tanto na proposta quanto na execução.
Disponível para: | Steam, GOG, XONE/XS, PS4/PS5, Switch |
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Desenvolvido por: | Poppy Works |
Publicado por: | Ziggurat Interactive, Inc. |
Lançado em: | fevereiro/2024 |
Gênero: | Ação, Hack 'n Slash |