Deadcraft — plantando corpos e colhendo zumbis

Em um mundo devastado e reinventado por um apocalipse zumbi, não basta ser forte para sobreviver: é necessário também muitos recursos, gambiarras e uma mente bem aberta ao absurdo.

Deadcraft é um jogo que se resume muito bem eu seu nome: crafting e morte. Desenvolvido pelo First Studio, que desenvolveram também jogos como Fate/EXTELLA, Daemon X Machina e God Eater 3, o jogo lançado em maio de 2022 pode ser classificado como ação e sobrevivência com visão top-down.

Após o apocalipse zumbi, o mundo como conhecíamos foi embora e deu lugar a um deserto inóspito, poluído e entupido de zumbis por todos os cantos. Verdadeiramente, um lugar onde os fracos não tem vez e a força bruta reina em um mundo sem lei.

No meio disto tudo, foi construído um refúgio: uma cidade nomeada Arca, onde as pessoas vivem protegidas dos zumbis. À margem da Arca, existem as favelas, uma cidade menor e com muitos menos recursos, e que de quebra, ainda tem a população oprimida por soldados da Arca, além de estarem mais expostos aos zumbis e aos bandidos.

E neste mundo louco, controlamos Reid, um caçador de zumbis peculiar: é um dos poucos, senão o único meio-zumbi do mundo, o que lhe dá a habilidade de transformar partes do corpo e consumir coisas (e pessoas) como nenhum outro humano ou zumbi consegue.

O jogo funciona na base do mundo aberto: podemos transitar tranquilamente pelo mapa, que começa limitado às favelas do jogo e vai se expandindo conforme progredimos na campanha do jogo.

Direto ao ponto

As missões, por sua vez, seguem uma estrutura simples: desbloqueie esta habilidade e colete recurso x. As missões paralelas são muito boas para coletar recursos e dinheiro, enquanto as principais servem para desenvolver nosso personagem e as possibilidades que o jogo oferece, enquanto progredimos a história do jogo, conhecendo novos personagens e liberando novos pedaços do mapa para explorarmos.

Apesar de soar simples até demais, as missões funcionam bem: ir do ponto A ao ponto B, para buscar e trazer recursos é algo que soma-se bem ao mapa do jogo (que não é gigantesco) e à base do jogo: coleta de recursos.

O mapa menor e com recursos distribuídos por todos os caminhos, que podem ser coletados rapidamente, dão margem a uma jogabilidade que não permite ao jogador ficar batendo e batendo em infinitas árvores e pedras por horas apenas para coletar recursos.

O level design bem elaborado permite que o jogador faça tudo: vá do ponto A ao ponto B para completar sua missão, mas que também colete tudo o que é necessário no meio do caminho sem que isso se torne um grande desvio ou simplesmente fique entediante.

Há também com sistema de dia e noite, com missões e NPC que só ficam disponíveis em determinados horários. De começo, pode parecer complicado conciliar todas as tarefas que o jogo propõe: completar missões, coletar recursos e cuidar das plantações. Felizmente, conforme se progride no jogo, assim como nosso protagonista, também vamos "pegando o jeito da coisa".

Durante a jogatina, é preciso sempre estar atento às necessidades básicas de Reid: fome, sede e energia, todas que vão sendo consumidas conforme o tempo passa e a cada ação que fazemos.

Se estas barras chegarem próximas de se esgotar, recebemos alguma penalidade. Com sede, não podemos enxergar e com fome não podemos nos mover. E se qualquer uma das barras chegar a se esgotar, resulta em morte instantânea, obrigando o jogador a carregar seu último save.

A fome e a sede também estão diretamente relacionados ao tamanho da barra de vida e da barra de energia de nosso personagem, respectivamente. Ao dormir, depende do quão satisfeitas estas duas necessidades estão para definir o tamanho da vida e energia de Reid durante o dia seguinte.

Cuidado com o que come

Entre as principais mecânicas do jogo, temos a manutenção do nível de humanidade de nosso personagem: a depender daquilo que consumimos, Reid pode se tornar cada vez mais zumbi, o que faz com que suas habilidades especiais aflorem, mas também causa a repulsa e o medo em todos os humanos ao redor.

Quanto mais zumbi Reid for, mais poder de ataque ele tem, e ao maximizar a parte zumbi, também maximiza seu poder de ataque, enquanto sacrifica sua mobilidade e aumenta absurdamente o seu consumo de energia.

Totalmente humano, a vida de Reid é drasticamente reduzida e ele perde acesso a todos os poderes que seu lado zumbi dá, entretanto, ganha também um aprimoramento em sua resistência a dano.

O combate é rápido e o jogo possui uma boa variedade de armas e formas de abordagem. É possível atacar, esquivar e correr, este é o básico. Para além disto, é possível utilizar as habilidades de zumbi: defender-se com um escudo (feito de seu braço mutante), investir com o braço-escudo ou executar um ataque em área com o braço mutante esticado.

Além dos ataques básicos e dos poderes de zumbi iniciais, conforme progredimos no jogo, também ganhamos as habilidades de consumir seres vivos (que precisam estar vivos, obviamente) e também ativar o modo DEADMAX, um modo frenético em que Reid não utiliza suas armas e ganha uma nova sequência de ataques com seu braço mutante.

Quando falo de "formas de abordar" o combate, não me refiro a stealth ou simplesmente evita-lo, mas em diferentes formas de interagir com ele de maneira direta. Na mesa de trabalho, é possível fazer uma grande variedades de itens destinados ao combate do jogo, desde minas terrestres à sugadores gigantes de zumbis e barricadas com espinhos, afinal, controlar o espaço e o número de inimigos é essencial ao combate do jogo.

Um mundo desinibido pela violência

E falando em mesa de trabalho, é preciso falar também do deadcrafting que nomeia o jogo. É possível utilizar corpos de inimigos, pedaços, orgãos e até mesmo sangue de zumbi para criar coisas.

Itens criados através de deadcrafting são, muitas vezes, itens normais modificados com partes de zumbis e, portanto, possuem uma alta concentração do vírus. Por exemplo, um dos primeiros itens que podemos criar através desta função são os heaven's blessing modificados: itens que curam mais do que a poção normal, mas também sobem o seu nível de zumbi.

Aliado a mesa de trabalho, podemos também cozinhar e plantar alimentos conforme criamos hortas na base. Vegetais, carne e pratos feitos com itens plantados e regados com água podem dar todo o tipo de aprimoramento temporário à Reid e sempre o tornarão mais humano, assim como beber água sem a concentração do vírus.

Por outro lado, é possível utilizar o deadcrafting nas hortas e na criação de refeições: regue seus vegetais com sangue de zumbi e experimente vegetais mutantes, que podem ser usados para criar pratos com alta concentração do vírus e que dão aprimoramentos diferentes. É possível beber sangue de zumbi também, para ajudar a descer.

Mas, indo mais além, há também a possibilidade de se plantar corpos para colher zumbis com as habilidades dos humanos que matamos durante o jogo, claro, para planta-los, é necessário coletar seus corpos e trata-los na mesa de trabalho.

Os zumbis que plantamos servem para nos acompanhar em combate, ajudando a tirar o foco dos ataques do jogador enquanto causam dano. Em dado ponto do jogo, é possível melhora-los e, por incrível que pareça, eles podem se tornar muitas vezes mais poderosos do que o jogador com o melhor equipamento possível e com todos os aprimoramentos aplicados.

Além desses aliados, em momentos do jogo também contaremos com ajudantes humanos, que participam de algumas missões juntos com o jogador, estes quando morrem, conseguimos reanimar.

Por falar nos ajudantes, o jogo conta com um leque decente de personagens, os principais sendo Vernon, Jessie, DJ Zett e o Vovô zumbi, que são os principais aliados ao longo da campanha. Cada um destes possui sua própria linha de missões secundárias, além de serem importantíssimos para a campanha principal.

Os inimigos, no geral, tem uma variedade boa, existem pelo menos quatro tipos de zumbis e uma variedade bem maior de humanos, que podem usar facas, facas e pistolas, metralhadoras, escudos ou apenas as mãos.

Já os chefões, embora poucos, são personagens muito interessantes, pelo menos a maioria. São divertidos e casam bem com o tom humorístico que o jogo carrega, onde a violência é banalizada ao extremo, como reflexo do mundo destruído pelo vírus.

Vale a pena?

Inicialmente simples, Deadcraft acaba se mostrando um jogo cada vez mais peculiar enquanto jogamos, não por sua forma de jogar, que é bem direta, mas sim pela sua maneira de exibir-se: violento e direto, com muitas risadas e situações absurdas que só poderiam existir como são apresentadas no universo que o jogo cria.

É um jogo fácil para quem se prepara. Para quem tem pressa, deve ser um jogo de dificuldade "ok". A narrativa direta serve bem como motor para levar o jogador a experimentar, descobrir e desbloquear tudo o que o jogo pode oferecer. Diverte bastante e tudo funciona muito bem.

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