Vale a pena jogar Outward: Definitive Edition?

Sobreviva em um mundo maravilhoso mas recheado de perigos com a versão definitiva de Outward.

Lançada neste ano de 2022, Outward: Definitive Edition promete corrigir alguns problemas do jogo original, já incluindo as duas DLCs (The Three Brothers e The Soroboreans) lançadas para a versão anterior, conteúdo adicional e gráficos repaginados. Mas será que vale a pena?

Atenção: este texto foi escrito originalmente em 2022, à época do lançamento do jogo. É seguro dizer que 100% dos bugs mencionados nesta resenha já foram corrigidos.

O jogo funciona como tantos outros RPGs de ação, mas sem a premissa de colocar o jogador no papel de um ser único e especial, mas sim de um humano como qualquer outro, vivendo no continente perigosíssimo que é Aurai, cheio de magia, doenças, animais selvagens, saqueadores, culturas opressivas e tensões políticas.

A história se inicia em um naufrágio, o navio em que seu personagem estava afundou e vários colegas de vilarejo faleceram. Ao acordar e sair de casa, uma multidão furiosa espera receber o pagamento de sua tarifa de sangue, um sistema cruel que define que o erro de uma pessoa condenará toda a sua família, até que um dia a divida seja paga por inteiro.

Após o naufrágio, há um baque econômico e sentimental no vilarejo, que procurou a pessoa mais vulnerável para expurgar a raiva e necessidade sobre. Com ajuda da mestra do vilarejo, é dado o prazo de 5 dias para que se colete 150 moedas de prata para o pagamento da dívida, caso contrário, o jogador perderá sua casa. Entretanto, conseguir as moedas dentro do vilarejo é impossível (ou não?).

Começando a aventura em Aurai.

Como um humano, explorar o mundo pode ser muito perigoso, a falta de preparo é brutal. Ao mesmo tempo, a ignorância é uma inimiga da qual é impossível escapar (pelo menos no início do jogo) e é daí que vem a maior parte da diversão: exploração e falha. Os perigos desconhecidos e surpreendentes colocarão o jogador em xeque a cada esquina, proporcionando a experiência necessária para evolução com o tempo.

Aqui não existem níveis e muito menos pontos de experiência, a evolução acontece conforme se adquire o dom da magia, equipamentos superiores e com, literalmente, experiência. Enfrentar monstros e conhecer seus ataques e, principalmente, como feri-los, é imprescindível para a sobrevivência, tanto quanto conhecer o terreno e seus perigos, andar cuidadosamente também ajuda.

As diferentes regiões do jogo oferecem climas e criaturas distintas, em algumas chove muito, em outras pouco ou nunca, ou são extremamente frias, obrigando o jogador a se adequar ao ambiente, com muita água, comida adequada, poções e roupas para evitar os debuffs e morte. Também é possível utilizar magia para resfriar ou aquecer o corpo... Mas também é importante tomar cuidado com os monstros que habitam a região, alguns estão em várias e outros habitam apenas regiões especificas.

Existem diferentes facções às quais o jogador poderá se aliar durante a campanha, cada uma seguindo a sua própria rota dentro de uma história interconectada que só poderá ser revelada por completo finalizando o jogo com todas, cada uma garantindo também diferentes habilidades e itens únicos ao personagem, claro, se certas condições forem atingidas durante a jogatina.

Sendo este um ponto importantíssimo, o jogo demanda que muita coisa não dita seja feita para que certos acontecimentos decorram de determinada maneira, seja durante a campanha ou em missões secundárias, sem aviso e sem direcionamento, jogue do seu jeito e experimente as consequências.

Em casos mais extremos, é possível perder até mesmo cidades principais do jogo, com NPCs importantes morrendo e algumas áreas muito úteis simplesmente se perdendo (mas se ganha um lugar ótimo para farmar, não que tenha ocorrido comigo, claro), mas não é tão complicado de evitar.

Combate e inspirações.

O combate do jogo é totalmente inspirado em Dark Souls, assim como o design do hud, menus, sistema de peso, aplicação de status e até alguns pontos da narrativa que lembram bastante os jogos de Hidetaka Myiazaki. Essa forte inspiração, entretanto, não tira a originalidade de Outward, que consegue ser bem inventivo em outros pontos e funciona a sua própria forma mesmo nestes que lembram bastante outros jogos.

O combate parece lento e, comparado com outros jogos do gênero, é fácil dizer que isto é um fato; mas Outward é um jogo com um ritmo bem diferente, a estamina aqui se recupera em uma velocidade absurdamente lenta, tornando a administração desta muito mais meticulosa, o que pode arrastar alguns combates se não for aproveitada corretamente.

Com dois botões de ataque (forte e fraco), um para corrida e esquiva e mais um para a defesa, o combate do jogo é extremamente punitivo, no início é complicado lidar mesmo com os inimigos mais fracos. Aqui o combate é mais cadenciado, os inimigos são bem agressivos no geral e eles vão tentar te atacar ao mesmo tempo e de diferentes direções.

Uma boa mochila é essencial.

Pode ser difícil encontrar a sua hora de atacar, principalmente contra alguns chefes ou inimigos mais poderosos. Muitas vezes, é necessário atacar ao mesmo tempo, aproveitando a distância e o ângulo para acertar o inimigo e, muitas vezes, nós erramos. E morremos.

Existem dois tipos de dano: físico e elemental, cada armadura e monstro pode ter resistências a determinado elemento ou elementos. É possível alcançar a imunidade completa, coisa que o jogador só alcançará com preparo e planejamento, assim como o dano pode ser aumentado drasticamente, utilizando o equipamento e poções corretos.

Há também uma barra de equilíbrio que indica quando um inimigo vai cair ou cambalear ao levar ataques. É fundamental compreender o funcionamento desta barra para conseguir lidar com os inimigos mais difíceis, criando aberturas e evitando certos ataques.

Cada arma possui níveis de impacto diferentes, assim como movimentos de ataque distintos, garantindo uma variedade de formas de jogar, existem também itens únicos e equipamentos que podem ser construídos com pedaços de criaturas mortas ou minérios especiais, garantindo efeitos únicos como sangramento, veneno, combustão e tantos outros...

Aliado aos movimentos obtidos pelas diferentes armas, existem diferentes professores espalhados pelo mundo, que cobrarão um preço em prata para ensinar ao personagem novas habilidades. Vale ressaltar que alguns professores podem oferecer árvores de habilidade inteiras, inclusive com rotas distintas, mas para liberar estas árvores de habilidade, mais do que uma quantidade generosa de prata, será necessário oferecer também um ponto de avanço, sendo que recebemos apenas três por personagem.

Entre estes professores, há magos, guerreiros e caçadores, que oferecem habilidades que se complementam umas as outras, causando efeitos distintos, embora isto seja mais específico para as magias, os diferentes buffs e efeitos causados por habilidades de guerreiro e caçador se somam muito bem, sendo possível causar diversos debuffs de uma única vez no inimigo, ao mesmo tempo em que se aplica diversos buffs a si mesmo.

Existem diversos tipos de magia, algumas podem consumir um certo item para ser conjuradas e outras podem precisar de um catalisador, como uma lanterna ou tocha. Outras magias precisarão de um Lexicon, um livro de runas mágicas para que se possa conjurar as diferentes runas, combinando-as em diferentes sequencias, resultando em efeitos distintos, desde conjurar uma espada de magia à simplesmente criar luz para enxergar no escuro.

Morrer e tentar de novo... faz parte.

Morrer e acordar em uma situação pior? Também. Depois de morrer, dificilmente se acordará em uma situação melhor, apesar de haver a possibilidade. O jogo conta com diversos cenários possíveis após a morte e, cada área possuindo seus próprios cenários de morte exclusivos.

Se morrer em uma fortaleza de bandidos, há a chance de se transformar em um escravo e ser forçado a trabalhar ou, caso morra pelas garras de uma fera poderosa, há a possibilidade de acordar em seu ninho, claro, cheio de feras igualmente fortes. Junte isso aos efeitos negativos de ser nocauteado e você ganha um desafio maior como prêmio.

Os jogadores que optarem por se desafior no modo hardcore devem saber: o jogo não muda uma vírgula, mas ganha um cenário de morte especial e que é possível em 100% das vezes (mas não com 100% de chance de ocorrer), independente do local: o cenário de morte permanente, que excluirá seu personagem.

Grau limitado de liberdade.

Por ser um jogo feito por uma equipe pequena, é claro que ele não garantiria tanta liberdade quanto um Elder Scrolls ou Fallout e, na verdade, ele não tenta. Uma decisão inteligente dos desenvolvedores. Em vez disso, o jogo abraça sua maior fonte de inspiração: Dark Souls, focando sua gameplay, suas missões e seu tempo no combate.

Não é possível ter uma abordagem stealth, por exemplo, a maioria dos inimigos não levará um dano alto o suficiente para morrer imediatamente, por exemplo, o design das fases também não favorece essa abordagem e, embora seja possível conseguir vantagens se aproveitando do sistema de stealth, que existe sim no jogo, não passa disso.

Existem muitas builds possíveis que, embora todas envolvam entrar em combate direto, nem todas envolvem utilizar uma arma branca para atacar, é possível utilizar apenas magia, armas de fogo, arco, etc. Mas, como tudo no jogo, envolverá preparo para chegar a este ponto.

A abordagem nas campanhas principais também é bem limitada, claro, existem escolhas a serem feitas e elas podem mudar muita coisa, além disso, boa parte delas não é feita em conversas, mas sim de acordo com a atenção que o jogador dá a missão e aos detalhes. Embora a maioria das coisas não façam tanta diferença na narrativa em si, afetam bastante a premiação do jogador.

Em realidade, a maioria das coisas só altera a própria linha da quest exclusivamente, mas não influencia em nada a narrativa da campanha principal. É interessante ter uma história amarradinha, mas às vezes simplesmente soa estranho que consequências devastadoras causadas por nossas decisões passem batido.

Bugs e desempenho pior na edição definitiva.

A versão definitiva veio para corrigir muita coisa que havia errado com a versão original, dentre elas, a implementação esquisita de alguns recursos das expansões como, por exemplo, o fato do encatamento de armaduras só ser possível na região da expansão, ficando inutilizável nas demais.

Houve uma melhoria gráfica significativa, entretanto, isto acarretou em problemas muito sérios de desempenho para o modo multijogador em split-screen, além de outros bugs que podem ocorrer. A maioria dos erros que enfrentei não estragou o jogo totalmente, mas com certeza atrapalharam e muito!

Dentre os erros que o jogo possui, o mais notável é o do split-screen. Além das quedas de quadros por segundo e da diminuição de desempenho em geral, os controles simplesmente param de funcionar adequadamente, e o problema é acentuado ora sim e ora não conforme se joga, ocorrendo até de o controle do jogador 1 mover o personagem ou hud do jogador 2, coisa que atrapalha demais a jogatina.

Vale a pena?

As mudanças e implementações da edição definitiva realmente são algo que, embora não transformem a experiência completamente, a revigoram e a dão um ritmo mais agradável, amarrando todo o conteúdo (jogo base e expansões) em algo único, enquanto adiciona mais detalhes.

Os gráficos melhoraram, existem alguns pequenos ajustes na jogabilidade (quase imperceptíveis) aqui e ali, mas nada tão substancial, claro, para quem nunca jogou, é recomendado começar por esta versão mesmo. A principal melhoria é que agora o jogo mantém os 60fps sem problemas.

Os sistemas de encantamento, sobrevivência e magia são o ponto alto, o combate é divertidíssimo e são muitas possibilidades de skillset. O combate é satisfatório e sem piedade, mas também não parece ser injusto, menos quando é, mas você pode lidar com isso se tornando extremamente poderoso.

Entre os defeitos, podemos citar as campanhas, embora com uma história interessante, não dão muita liberdade ao jogador, talvez isso nem seja um defeito, mas é uma escolha dos desenvolvedores que provavelmente não vai agradar a maioria, afinal, as escolhas estão lá, mas impactam pouco e soa meio discrepante quando se descobre que algumas consequências absurdas existem e com avisos bem menos diretos, claro, destas a gente gostou e queria mais ainda.

O pior de tudo, entretanto, são os bugs, às vezes o jogo se fecha, às vezes o personagem fica preso em um canto (que não é lá muito fácil de alcançar, mas é possível) e nunca mais sai e, às vezes, o jogador tenta utilizar o split-screen, que torna o jogo realmente problemático. Além da queda no desempenho, ocorre também o problema com as respostas dos controles que já foi mencionado anteriormente.

Mas não se engane, o jogo é ótimo e é possível conseguir por preços muito bons. No computador ainda há a adição de MODs e afins, possibilitando até mesmo PVP, por exemplo. Apenas fique longe do coop local e ficará tudo bem.

Claro, você ainda pode jogar a versão original, que tem praticamente o mesmo conteúdo e menos bugs.

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